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Volume 7, n. 2Junho/2012

Publicado em outubro 4, 2012

Descrição da edição

PREFÁCIO

 

Aprendiz de Artesão

Ao invocar a tríade de expoentes da renascença: a observação em Galileu, a escrita de Camões e a pintura de Da Vinci, esbarro em Shakespeare e desatino a explorar seus datílicos versos a ermo. Depois de investigar toda a península ibérica dos cinco séculos de domínio árabe, me lambuzo comendo kafta, labineh e merche, e parto à perseguir de perto a Fórmula 1 de caravelas e aporto no Brasil.

Viajo com os olhos estrangeiros e nova tríade consorte me devora o estômago, raízes de Hollanda, a eco-nomia do Prado e a senzala do Freire traduzem um carioquês de milho cozido e água de côco natural.

A favela é a nova senzala para o Lobão, que com a chegada dos alquimistas do Benjor, compõem todo amor que houver nessa vida do Cazuza, e enobrecem nossa estirpe de poetas errantes, nossos moinhos, nossos castelos. O samba ainda vai nascer, e todo sanduíche será sagrado no Cervantes.

O modernismo carnavalesco da Rosa, Noel, bandoleiro da Vila, o tropicalismo gentil dos baianos anexo ao Cinema Novo de Glauber, expõem os ossos do ofício dos Hermanos que retomam a tradição da Central do Brasil ao elegiar em canções o marulhar dos pescadores de Caymmi, a brasilidade do barro poético até sancionar a lei do forte na força do fraco.

Todo dia é dia de índio fixou nova identidade cultural nesse aprendiz de artesão vital e em Hip Hop, ao traduzir a voz da periferia e em toda telenovelisse viralata, o ensejo de felicitações momescas típicas do nosso imperador Pedro.

As iguarias, coxinhas e petiscos acompanhados de cerveja e cachaça, só com música ribeirinha apropriada meRmão. E não vem com essa não, de que tá de luto, que a fogueira de São João acabou de acender e o forró, for all, será até o sol raiar. Bota churrasquinho, salsichão e ritmo pra quebrar que a Mangueira vem ai.

A maresia do pensador enche o ar de fumaça, a indústria criativa inova ao juntar no jogo do negócio sustentável a educação e pedagogia do Freyre, e atestam vários projetos do Darcy em Brizolões cinematográficos largados pelo estado à fora.

Uma desobediência civil titânica, reclama que todos estamos ficando loucos de tanto pensar, rotinas febris usurpam nossas almas banhadas de Tom, vestidas de Cartola e perpetuadas em estátuas Elíseas Róseas e Carmem Ligias de outrora.

Vozes que cantam toda nossa cultura, testemunhas elocubradas do praiano sentimento do mundo: o solar encanto dos lábios paradisíacos das ondas a marulhar e te indispor a toda e qualquer sorte de produção, até o inexorável contemplar da feijoada e caipirinha que num momento de glória diz ao mundo “eu fico”, e cria o Dia do Fico, dia de ficar consigo e com ela sem compromisso... Só indícios fátuos, de que a vida é a melhor cantora e meretriz, e que devemos oxalá aos orixás, santos e divindades, ofertas, encantos e ritos, toda a nossa ginga de capoeira talhada nas ruas de paralelepípedo e faca nos dentes.

Reluz-entes da escola de Frankfurt, o ser que não é em Heidegger, a intencionalidade Husserliana, e o tempo em Bergson cogitam fenômenos novos después de Descartes os esmerilhar no viço do Rocinante a galopar amores lancinantes, uivo de aprendiz de iniciante, um humilde artesão.

 

                                          José Augusto Nogueira Kamel

                                 Rio de Janeiro, 13/06/2012, Dia de Santo Antônio