REFLEXÕES SOBRE BIOECONOMIA: A 3ª VIA PARA O BRASIL?

Leonardo da S. Lima

leodslima@gmail.com

Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brasil.

Jéssica de F. Delgado

jessiicafdelgado@gmail.com

Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brasil.

Khauê Vieira

kvieira87@gmail.com

Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brasil.

José Antônio Baptista Neto

jabneto@id.uff.br

Estefan Monteiro da Fonseca

oceano25@hotmail.com

Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brasil.


Durante as últimas décadas, a procura global do desenvolvimento aliada às novas tecnologias antagonizam com a fome e a concentração de renda, resultando na insegurança nutricional e na injustiça social. Este quadro reforça o quadro de disseminação de doenças, a violência e consequente destruição da diversidade biológica através do uso desenfreado dos seus recursos naturais.

A pergunta é: por que o capitalismo não viu ainda na sustentabilidade ambiental fontes reais de ganho que justifiquem a paridade com empreendimentos de extremo impacto ambiental? A resposta acaba sendo extremamente simples: a bioeconomia precisa ter na intelectualização da sociedade o cenário para se tornar profícua. Atualmente, a cultura disseminada pelas novas vias de informação, chamadas “redes sociais”, pregam o sucesso na riqueza financeira e o prazer no imediatismo (Desmurget, 2020). Desde novos, os jovens vêm sofrendo uma espécie de lavagem cerebral passiva, na qual a tecnologia subliminarmente vem moldando o seu caráter e enfraquecendo a sua intelectualidade, tornando-os intelectualmente frágeis e sem capacidade de real discernimento. A juventude de hoje não mais é capaz de tecer críticas construtivas a respeito de assuntos considerados estruturais. Ela apenas vive o dia a dia, dentro de uma ilusão de felicidade frágil e efêmera. O presente editorial não pretende abordar este assunto de forma lúdica, se arriscando a cair em descrédito pelos mais céticos. Por outro lado, se esforçará para se manter baseado em dados palpáveis.

Fato é que não se pode lutar contra a natureza do ser humano, e entre seus principais pilares estão a competitividade e a ambição. Tentar conter ambas as características seria um simples ato improfícuo, pois a natureza humana é seu principal guia. Então, se não se pode combatê-la, por que não usá-la como ferramenta para atingir o nosso objeto direto: o lucro por intermédio da sustentabilidade?

Hoje existem diversas possibilidades no ramo da bioeconomia que apresentam potencial capacidade de fazer frente a métodos de renda tradicionais. Um exemplo está na área do saneamento ambiental. Países tropicais, por serem em sua maioria de origem colonial, tenderam a importar métodos de saneamento dos países invasores. Existe uma questão não muito debatida entre os atores envolvidos na temática de saneamento, que são as diferenças de clima e biodiversidade dos ambientes tropicais e temperados. Ambientes temperados apresentam clima frio, menor produtividade primária e, por isso, menor acúmulo de matéria orgânica, que junto aos dejetos humanos acumulados nos corpos aquosos são denominados “esgoto”. Já em países tropicais, estes corpos hídricos apresentam naturalmente uma grande razão de produção primária, muitas das vezes superando a quantidade de esgoto neles despejado (Silva e Esguícero, 2010).

Por outro lado, ambientes tropicais apresentam maior biodiversidade, possibilitando uma maior capacidade de autodepuração dos dejetos acumulados em ambientes aquosos. A solução seria apenas o reequilíbrio destes sistemas por meio da reintrodução de microrganismos depuradores autóctones mais sensíveis que, no decorrer da ocupação desenfreada, passaram a não mais existir. A pergunta é: não seria todo o valor agregado ao reequilíbrio sustentável um braço evidente e consistente da bioeconomia? A questão verdadeira é: temos intelectualidade suficiente para entender e comparar os ganhos desta nova vertente? Seriam estas inciativas as reais vias de desenvolvimento dos países tropicais em desenvolvimento? Quais são as outras potencialidades econômicas que o nosso ambiente tropical oferece que podem ser capitalizadas em níveis econômicos reais? Resposta: só a cultura e a educação poderão gerar estas respostas, e talvez por isso sejam tão malvistas pela governança tradicional brasileira.

REFERÊNCIAS

Brumo, L. (2011), “Education and economic development in Brazil”, Revista Brasileira de Educação, vol. 16, no. 48, pp. 545-806, DOI: 10.1590/S1413-24782011000300002

Desmurget, M. (2020), La fábrica de cretinos digitales: los peligros de las pantallas para nuestros hijos, Ediciones Península, Bracelona.

Feresin, E.G. et al. (2010), “Primary productivity of the phytoplankton in a tropical Brazilian shallow lake: experiments in the lake and in mesocosms”, Acta Limnologica Brasiliensia, vol. 22, no. 4, pp. 384-396.


Recebido: 2 jun. 2023

Aprovado: 2 jun. 2023

DOI: 10.20985/1980-5160.2023.v18n1.1883

Como citar: Lima, L.S., Delgado, J.F., Vieira, K., Baptista Neto, J.A., Fonseca, E.M. (2023). Reflexões sobre bioeconomia: a 3ª via para o Brasil? Revista S&G 18, 1. https://revistasg.emnuvens.com.br/sg/article/view/1883