A transferência de tecnologia como base da evolução de países em desenvolvimento

Lucas Wanderley Gaudie-Ley

lucas.gaudie@gmail.com

Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brasil.

Adriana Azevedo Netto

adriana.projetosuff@gmail.com

Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brasil.

Estefan Monteiro da Fonseca

Oceano25@hotmail.com

Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói, RJ, Brasil.


Durante a última década, o desenvolvimento sustentável tem sido encarado por diversas nações globais como a prática ideal a ser alcançada, sendo inclusive foco da ONU através de suas últimas deliberações (17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de 2012 - ODS). A situação pós-pandemia do COVID-19 reforçou ainda mais a necessidade de políticas públicas que levem em consideração o equilíbrio ambiental mundial no que tange à gestão dos recursos ambientais, já em diversos casos, escassos. Neste cenário, a tecnologia continua a ser vista como um elemento-chave na transição para um modelo mais equilibrado. Por outro lado, as investidas internacionais para estimular a evolução dos países em desenvolvimento falharam em produzir resultados proporcionais às demandas. Além disso, o debate acadêmico se mostrou insatisfatório.

A 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, mais comumente referida como COP27, ocorreu em novembro de 2022. O evento sediou mais de 50 sessões interativas, reunindo mais de 800 líderes de setores, gerações e países. Essas sessões impulsionaram a ação de várias partes interessadas em áreas tão amplas quanto aumentar a ambição climática, financiar a transição Net-Zero, acelerar a descarbonização da indústria, segurança hídrica, financiamento para adaptação, inovação oceânica e muito mais. Assim, a peça central da agenda de desenvolvimento pós-22 foi a renovação entre o compromisso com o desenvolvimento sustentável e a promoção de um futuro econômica, social e ambientalmente equilibrado para o nosso planeta e para as gerações presentes e futuras.

Não surpreendentemente, e já bem antes dos ODS, a natureza pluralista e dinâmica da sustentabilidade torna sua operacionalização questionável (Kemp & Martens, 2007). Por outro lado, o entendimento geral do papel da tecnologia como um dos “meios de implementação” e exequibilidade das metas da sustentabilidade (Nações Unidas, 2015) mantém este ideal vivo.

É senso comum que o “desenvolvimento” se baseia na soma de capacidades tecnológicas, sociais e institucionais construídas ao longo do tempo, conjugadas com eventos de múltiplas ondas de oportunidades de crescimento (Pérez, 2001). Assim, o uso de tecnologia se torna também determinante à prosperidade de qualquer economia (Keller, 2004; Ruttan & Hayami, 1973). Considera-se ainda que, mais do que uma das ferramentas de desenvolvimento, a tecnologia permite a viabilidade dos programas de desenvolvimento (Pérez, 2001).

Ainda com todo o apoio global, as ferramentas tecnológicas ainda não mostram total aderência ao contexto da sustentabilidade. Entre as principais lacunas presentes no ambiente de apoio de tecnologia nas práticas sustentáveis estão as definições de ferramentas tecnológicas mais efetivas ou apropriadas para determinadas problemáticas, assim como os meios mais adequados para transições tecnológicas. Por fim, e não menos importante, quais as melhores formas de implementar tecnologias e como apoiar adequadamente a inovação, inclusive entre fronteiras nacionais (Nações Unidas, 2016). Essas questões são críticas de forma global, mas estão ainda mais presentes nos países em desenvolvimento, uma vez que a limitação não se resume apenas na disponibilidade de tecnologia, mas na existência de recursos humanos para ministrá-la, além de capital físico, financeiro, institucional e organizacional (Pigato et al., 2020) para a sua implementação.

Tendo como base as informações supraexpostas, o presente número da Revista S&G disponibiliza títulos como “Avaliação das Condições Ambientais dos Elementos de uma Paisagem Rural utilizando o Software Livre GOOGLE EARTH PRO”, “Inteligência artificial e previsão de preços de ativos financeiros: uma revisão sistemática”, “Capacidades dinâmicas e empreendedorismo internacional no parque tecnológico de Pernambuco: análise de empresas do Porto Digital” e “ACISIWEBSHOP: O primeiro marketplace regional da cidade de Ivaiporã-PR”, que abordam o uso de tecnologias nos campos ambiental, financeiro e de empreendedorismo, respectivamente, de forma a otimizar seus fluxos. Por outro lado, títulos como “Qualificação do desempenho de empresas em relatórios de auditoria ambiental compulsória no estado do Rio de Janeiro” e “Governança ambiental para a proteção do bioma Amazônia e Cerrado: o que o Brasil tem feito?” apresentam a sustentabilidade ambiental como cenário ideal para o desenvolvimento. Por fim, e não menos importante, artigos como “A importância da avaliação dos riscos laborais e dos fatores que comprometem o conforto ambiental para com alunos e profissionais no ambiente escolar” e “Capacidade Estatal e Redes de Cooperação Pública na Saúde no Controle da Pandemia de COVID-19” apresentam ferramentas a serem respeitadas nos campos da Educação e Saúde.

REFERÊNCIAS

Keller, W. (2004), ‘International technology diffusion’, Journal of Economic Literature Nashville, vol. 42, no. 3, pp. 752–782.

Pérez, C. (2001), ‘Technological change and opportunities for development as a moving target’, CEPAL Review, vol. 75, pp. 109–130.

Pigato, M.A., Black, S.J., Dussaux, D.C.R., Mao, Z., Mckenna, J.M., Rafaty, R.M & Touboul, S. (2020), Technology transfer and innovation for low-carbon development, Washington, DC, World Bank, pp. 1–231.

Ruttan, V.W & Hayami, Y. (1973), ‘Technology transfer and agricultural development’, Technology and Culture, vol. 14, no. 2, pp. 119–151.


Recebido: 20 dez. 2022

Aprovado: 20 dez. 2022

DOI: 10.20985/1980-5160.2022.v17n3.1849

Como citar: Gaudie-Ley, L.W., Azevedo Netto, A., Fonseca, E.M. (2022). A transferência de tecnologia como base da evolução de países em desenvolvimento. Revista S&G 17, 3. https://revistasg.emnuvens.com.br/sg/article/view/1849